segunda-feira, 30 de março de 2015

O Evangelho segundo a Pós-modernidade – Parábola do Gordo -


            Naquela tarde porém Ele passava pela região de Cesaréia, próximo ao arvoredo de Taribos e da região seca da Judá. E como o sol castigava a terra uma multidão de miseráveis o seguia porque já havia se espalhado o boato  dos milagres. Nesta data já se contava o ano de 2315 e por isso os  imperfeitos já haviam sido expulsos das cidades altas onde os limpos regozijavam do ar fresco e das muralhas de espelhos que só a eles era permitida por força máxima da lei.
            Mas Ele, porque era o filho do homem, já sabia de sua missão de salvar os que haviam sido expulsos dos paraísos perfeitos. De cima de uma pedra alta, com o povo embaixo olhando, e suando debaixo do sol, ele falava às multidões, que com o coração contrito, o ouviam. 
              Em verdade em verdade eu vos digo:  quem dentre vós podeis dizer que sois inocentes? Que não inferiste no pecado da gula e mesmo assim colhem nos próprios corpos o motivo  da vossa desobediência contra o meu Pai?  Porque assim vos disse o Senhor teu Deus:  que se façam perfeitos o homem e a mulher assim como Deus é perfeito. Que os vossos ossos sejam cobertos da tenra carne e que a carne seja enrijecida pela saliência dos músculos  e que os músculos sejam revestidos da pele, com nada a separar estas duas naturezas. Apenas músculos unidos à pele e a pele unida aos músculos assim como o homem deveria estar unido a Deus. Com nada entre estes dois elementos da criação a não ser pela  transparência que permite à nós distinguir  os movimentos e a força do varão  e a sutileza feminina das esposas.  Mas foi porque pecaram contra o meu Pai, foi porque desobedecestes as escrituras  que se instalaram entre vós essas anomalias, estas cousas terríveis das quais me pedem para que eu vos liberte agora. Porque todo aquele que se une ao Pai é um com ele, e seus corpos testemunharão do milagre que existe quando o músculo se encontra com a carne, e nenhuma camada de nada que é imundo os pode separar.
            E foi no meio deste sermão que houve uma agitação no meio da multidão porque por um caminho que se abria no meio das pessoas é que traziam em uma maca um Gordo. Porque estava quente e porque ele suava os outros davam espaço para sua passagem porque não queriam contaminar-se com o fluido do pecado que dele se desprendia. Trouxeram-no até o filho do homem e deitaram o no chão, e ninguém mais havia que estivesse por perto. Quando Jesus se aproximou duas nuvens cobriram o sol em cima de onde os dois estavam e imediatamente no círculo que aquela sombra delimitava a temperatura caiu de 40 para 22 graus. E o Gordo parou de suar enquanto Jesus tinha compaixão dele. Jesus olhava para o homem deitado no chão quando alguém gritou do meio da multidão: - Senhor, quem foi que pecou  para que este homem traga na carne as camadas de gordura que lhe trazem seu sofrimento? Foram os seus pais que pecaram, ou foram os pais de seus pais que incorreram em infâmia contra o Senhor nosso Deus ?
            - Em verdade em verdade eu vos digo, que nem os seus pais nem os pais de seus pais que pecaram, mas que este homem sofre para que se façam cumprir nele as vontades do vosso Pai que estais no céu. Porque todo aquele que se arrepender do pecado, de todo o seu coração será de novo aceito na casa de meu Pai, e também na casa dos homens e nos círculos de suas conexões sociais. Por isso eu te digo , irmão, que repense todo o teu sofrimento, e te arrependas agora de todo o teu coração para que eu retire de ti todo o pecado e te devolva a vida social que tanto amas e precisas para tua felicidade.
            - Perdoa-me Senhor - disse o Gordo.
E nesse instante uma luz partiu o céu em dois, e o sol, embora brilhasse, deixou de esquentar, e uma brisa fresca cobriu toda a multidão, que deixou de suar instantaneamente.  Jesus pôs a mão na testa do homem e o seu corpo revestiu-se de luz, que por um instante arrebatou todos aqueles que olhavam. Então depois fez-se silêncio. Não era mais um gordo que estava diante de Jesus, mas um homem feito apenas de músculos. Com a pele perfeita cobrindo toda a extensão deles, do mesmo modo como o oceano cobre o firmamento. O homem levantou-se e chorava muito por não conseguir acreditar no que acabara de se passar com ele. Porque estava agora sem camisa era possível ver-se de longe as 8 linhas que delineavam o abdômen,  e as outas 4 de cada lado que desenhavam os músculos da asa e também os das costas, além das linhas maiores que esculpiam todo o peitoral e as outras e muitas outras que agora lhe davam um aspecto de um varão livre do pecado, saudável e socialmente recuperado. Ele agradeceu ao Senhor, que em seguida lhe disse: Vai e não peques mais. E assim o homem se foi pela multidão caminhando até atingir os portões das cidades de espelhos onde entrou e ali viveu até o dia da sua morte.


Eis o mistério da fé.