Sim , porque eles
existem –pensei. Porque percebi a existência deles muito antes do que pudesse
perceber a minha própria. O que diferencia um homem de um macho? Quais são as
fortalezas e fraquezas desses reprodutores que chamamos de nossos machos ?
Porque a palavra macho em si quer dizer muitas outras coisas. Ela é uma pedra bruta, que precisa ser
entalhada, como eu farei neste texto, para que vocês possam entender o que eu
quero dizer por “um macho”. Diferentemente do que vocês, mulheres, e também
alguns homens, possam pensar, um macho não sabe que é um macho. Ele tem muito
pouca consciência de si mesmo. Aqueles que atribuem dominação e violência ao
fato de serem machos não sabem o que é ser um macho. Estes últimos são qualquer
outra coisa, são brutos, covardes, cafajestes. Mas não são um macho. Pergunto-me
eu: o que é isso que o macho tem e que a gente quer? Porque é que não sai da
nossa boca como palavra, isso que a gente busca? Porque é que só sai do corpo,
antes do gozo, e não com o gozo em si ? O gozo em si é o fechar da torneira após um
macho ter passado por nós. O que eles fazem antes do apogeu da ejaculação é o que
faz com que nós saibamos, com certeza, que um macho passou por nós. Atente então para os detalhes, para as dicas,
quase secretas, que eu lhes dou agora para identificar um macho. Assim como o
nome já diz, eles tem muito dos animais, mas não de selvageria. Eles se
comportam procurando pelas fêmeas. A cabeça se meche bem rápido, o movimento é natural
como o dos grandes carnívoros adaptados a caçar nas savanas quentes. E o olhar
não é como o olhar dos cavalheiros e homens, onde os olhos é que se movimentam
muito, acompanhando o fluxo dos pensamentos. Nos machos o fluxo corporal é que
é manifestado pelo movimento da cabeça. O corpo, os músculos, a pele quente,
eles todos é que pensam primeiro e então o corpo acompanha. E os olhos
geralmente são duas bolinhas pretas maciças, indecifráveis, porque não há nada
para ser decifrado mesmo. São desenhadas assim porque a natureza assim as fez
para atrair as fêmeas. E os lábios - diferentemente dos cavalheiros, que abrem
a boca apenas na necessidade de falar algo que lhes convêm- os lábios estão e
estarão sempre entreabertos. O lábio inferior está sempre amostra, refletindo a
luz do ambiente. A gente olha praqueles lábios entreabertos e a nossas mãos
mentalmente vão nas faces cavalares, na barba cerrada, e o nosso corpo
mentalmente também se gruda ao corpo deles. Mas isso não é dado em qualquer
lugar. Este encontro sensual que nos expõe à existência de um macho é um momento muito raro. Geralmente se dá
dentro de um restaurante, num casamento, numa festa de formatura ou em qualquer
outra ocasião especial onde eles estejam usando uma camisa polo bem justa. É
fácil observar que os bíceps são bem demarcados pelas extremidades da camisa.
Nota-se também facilmente que o peitoral é largo e as costas seguem o desenho
do peitoral. O macho sentará na mesa a sua frente olhará a fêmea durante o evento. Ele não se
entende, não é um cavalheiro, como eu disse, é mais do que isso, é um macho. O
macho tem por si só um objetivo muito claro, a fecundação. Alguns machos com
traços mais humanos podem não se identificar totalmente com essa característica
e desenvolver alguma afeição pela fêmea. Isso é muito raro, entretanto. Quando
tal coisa acontece é muito provável que o macho esteja na transição para homem
e a fêmea para mulher. Mas assuntos
transcendentais aqui não se aplicam uma vez que queremos falar da natureza
primeira dos machos.
Assim que tiverem a
oportunidade os machos conversarão com as fêmeas- conversas breves e
superficiais – porém necessárias para comunicar à fêmea o desejo da fecundação.
Ela aceitará, e então começará a expectativa de como ocorrerá o ato em si e a
transferência de prazer. O lábio do macho tem um gosto bom, melhor do que o dos
outros, porque dentro do gosto do lábio estão contidos a largura das costas, a
textura da pele morena, os bíceps grandes, o cheiro de macho no cio. O beijo de
um macho contém muito mais informação do que um beijo em si. Ele fechará os
olhos e a fêmea abrirá levemente as pernas. A musculatura pélvica da fêmea
naturalmente se relaxará. A fêmea se sente segura porque, se desejar , suas
crias serão protegidas pelo macho que ali se instala para a fecundação. Mas estas
coisas já são muito esquecidas, e não importam muito. O que importa, o que
tranquiliza a fêmea de verdade é a largura dos músculos. Ela eventualmente irá
desabotoar lhe a calça jeans, e deixa-lo de cueca. Os machos sempre usam uma
cueca box branca ou vermelha. E tem pelos masculinos nas pernas, próximos às
virilhas. A fêmea pode ceder na primeira vez ou procrastinar o ato da
fecundação. Se fizer isso porém terá que dividir o esperma dele com outras
fêmeas mais determinadas a concretizar o ato. Uma vez terminada a transferência
de material genético ou apenas depois que o orgasmo for atingido o macho se
deitará e dormirá, como um leão após a refeição. A fêmea também se recolherá e descansará um
pouco. Após uma higiene pessoal ela se recomporá e poderá no outro dia informar
as outras fêmeas sobre a cascata de prazer momentâneo coletada durante o
orgasmo. As outras fêmeas se sentirão então incomodadas e com um sentimento de
estarem diminuídas. Passará então um tempo e elas farão uma investida no macho
com o qual esta fêmea estava a copular. A este capítulo denominamos de ciclo
promíscuo de superioridade das fêmeas, mas não entraremos nesta discussão
dentro deste tópico. Tal ciclo também se aplica aos machos, que farão uma busca
iterativa de fêmeas buscando aquela que lhe forneça mais estabilidade e que lhe permita estar ao mesmo tempo
usufruindo da estrutura do lar e do coito com outras fêmeas.
Caso voltem a se encontrar o macho e a
fêmea eventualmente deixarão descendentes férteis e esta será possivelmente a
causa maior da a aparente estabilidade de uma relação monogâmica não favorável
mas possível. Com o tempo os machos envelhecem e perdem o vigor do seu sexo. Há
aqui uma distorção curiosa. Apesar de o pênis ser o órgão reprodutor é a
distorção e degeneração dos músculos do abdômen que faz com que as fêmeas se
sintam menos atraídas por eles. Com o tempo também os músculos do peitoral se
deteriorarão, e com eles os bíceps, as costas e o peitoral. Deteriorar-se-á a estrutura geral que na
juventude fez com que machos fossem machos. Com o tempo as funções metabólicas
todas cessarão culminando com a morte do corpo. Após este dia eles nunca mais
serão lembrados.