sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Nova Ordem Mundial ( e Eu)




Canadá, 20 de setembro de 2013. Finalmente eu cheguei onde eu queria. Ou pelo menos onde sempre achei que deveria chegar. Buscando o que? Felicidade. Se achei ? Se fosse fácil assim, duvido muito de que estaria vivo. Citando Guimarães, Felicidade se acha em horinhas de descuido. Chegando aqui a primeira impressão que eu tive foi sobre a cidade. Realmente tudo funciona, as pessoas são prósperas, ricas, todos tem muito, do bom e do melhor, e tem para todo mundo. Descobri isso quando me contaram que quem é cidadão canadense , se ficar desempregado , ou perder a casa e for morar debaixo da ponte ganha uma bolsa de 800 dólares do governo. Isso mesmo. Mendigos aqui ganham salário de professor de ensino fundamental em escola pública no Brasil. Cerca de quase 2.000 reais.Mas eu não estou aqui para criticar o Brasil nem exaltar o Canadá. São apenas análises metafísicas e filosóficas. O que quero dizer é quando passei a olhar de perto para essas pessoas a primeira coisa que  me veio à mente foi: será que eles são felizes !? O que é facil de notar é a necessidade quase que fisiológica de estarem conectados à internet. Muita influência da (cultura?) norte-americana é claro. Falando sobre estar conectados eles fazem isso das mais diversas formas possíveis. Ipad, Ipod, MacBook, Iphone, TV, e até mesmo no carro. São incontáveis os aparelhos que se usa para se manter plugado. Em contato com todo mundo e ao mesmo tempo sem ninguém por perto. Todo o marketing daqui visa a teologia da prosperidade. É preciso ter a melhor resolução, a última versão de alguma coisa, o melhor modelo. Se  você tem um Iphone 4 logo eles lançam o 5 e depois o 5s e então o 5c, em diferentes cores,  e quanto mais novidades mais incompleto você se sente porque não tem aquele último modelo. Esses dias eu fui numa loja pra comprar um computador, e eu realmente preciso de um MacBook por causa do sistema operacional que é compatível com os programas que eu uso na minha pesquisa científica. E por mais que eu gastasse cerca de 4.000 reais no tal do computador eu me senti desconfortável. Pensando, será que eu realmente preciso disso? Mas não foi só esse fato que me chocou. Ao lado do Mac Book Pro, por 1.799 dólares tinha um Mac Book Pro Retina Display, que custava 2199 dólares só porque imitava a sensação visual produzida pela sua própria retina ao olhar para as coisas. Ou, em outras palavras, uma melhor definição de imagem copiando os olhos humanos. Copiando os olhos humanos! ( Dá pra acreditar nisso !?)  E no mostruário aquelas imagens de estrelas, e cavalos correndo, e tudo o que você poderia conseguir se adquirisse o tal do computador. Não sei porque mas aquilo me embrulhou o estômago. Parece que ao adquirir aquelas coisas eu deixaria de ser Eu. A minha sensibilidade permite captar no ar esse sentimento implantado na cabeça das pessoas. É como se houvesse um homem de terno em cada esquina dizendo:  "Nada que você tenha é o bastante. Sempre haverá uma versão nova. Você vai ter que se atualizar pra sempre. Não importa o que você faça, você nunca vai se sentir completo.Bem vindo à Nova Ordem Mundial "  E quando eu falo isso é como se  realmente eu ouvisse essa voz invisível penetrando o meu corpo , entrando pelo estômago e me fazendo sentir náuseas. Retina Dislplay, retina display ... Será que as pessoas esqueçem que elas tem olhos pra se deitarem a noite, num descampado perto das montanhas e ficar olhando pro céu com a melhor resolução que existe no mundo: os seus próprios olhos !? Eu lembro que no Brasil eu já enfrentava o mesmo problema. Quando o meu ex-namorado comprou um celular novo tudo que ele fazia era ficar olhando praquela tela, mexendo naqueles botões, conversando com pessoas que estavam longe enquanto eu estava ali, do lado dele, querendo apenas conversar, na vida real. Por muito tempo eu senti falta de um olhar, de uma conversa. Eu sentia que se eu estivesse dentro do telefone ele me daria muito mais atenção do que a minha própria presença física ali do lado dele... Mas voltando a falar sobre tecnologia eu quero lembrar quando eu vi a propaganda do novo Iphone 5s pela primeira vez. O designer do produto falava que aquilo não era apenas um celular, mas uma "experiência"... Sabe o que eu acho? Essas pessoas esqueceram o que é realmente uma experiência. O que é sentir as coisas mais reais e menos virtuais. Eu tenho agora um MacBook, mas é porque eu preciso para trabalhar, tambem tenho um Samsumg Galaxy S3, que era top de linha no Brasil, mas agora já inventaram o S4, logo teoricamente o meu não funciona mais pra nada.E eu me sinto vazio. Mas o que mais me intriga é que quanto mais eu compro, ou quanto mais eu tenha, menos eu sou feliz, ou mais cheio de vento é que fica preenchido esse buraco aqui dentro. "Mais do que um celular, uma experiência..." essas palavras ficam ressoando na minha cabeça... Isso é tão ridículo que chega a ser engraçado. Eu acho que as pessoas perderam a ideia de o que é realmente uma experiência... Do que é se sentir feliz sem razão aparente nenhuma. Eu me lembro quando eu era pequeno , e eu ia pescar com meu pai , meu vô , meu irmão e meu primo. A gente esperava a semana inteira por aquele sábado. Eu lembro até hoje do cheiro da terra molhada, da textura das minhocas que a gente juntava pra uma boa pescaria, do barulho dos blocos de húmus caindo dentro da latinha de Nescau enferrujada. Eu lembro do sorriso do meu pai arrumando as coisas, do estalir do martelo apertando as chumbadas. Dos nossos pés dentro de sapatos surrados e felizes, pisando a grama verdinha e molhada. A gente ficava ali na beira do rio, todos juntos, e cada traíra que a gente pescava era um pirepaque de alegria... O barulho das botas amassando o brejo, e também os silêncios daqueles  abertos de água sem fim. As vezes eu ficava parado, um tempo enorme, só olhando,coisa de criança,  e era como se o rio coresse dentro de mim.  A gente era tão pequeno, e tudo tão grande, tão bonito... Em quantos pixels eu guardei essas memórias ? Não sei, com certeza muito mais do que qualquer câmera poderia captar... Eu lembro que naquela época não existia nem computador. Eu acho mesmo que  não precisava. As pessoas ainda sabiam ser felizes no mundo real . Disso tudo é que eu eu tenho saudade. Todos os meus celulares e computadores velhos eu joguei no lixo. As milhões de mensagens trocadas com "amigos" na internet foram apagadas, e esquecidas. Mas não tem como esquecer das risadas nos churrascos da nossa família, ou meu pai contando histórias, ou a serenidade do jeito de existir do meu avô, os gritos da minha mãe.Histórias que a gente guarda no coração.  Essas coisas a gente não esqueçe, elas são mais reais do que qualquer outra coisa. É disso que eu quero lembrar. É isso que eu quero ter. Mais realidade, mais abraço, carinho, palavras e sentimento, de verdade, de coração pra coração. E menos caixas de plástico quadradas pra simular a existência de tudo isso.


Yuri Volpato Santos, 20 de setembro de 2013

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