Ele perguntou pelo meu
nome, eu com o telefone no ouvido escutei mas não respondi. Não queria
responder, só queria escutar a voz dele mais um pouco. Não se fez então nenhum barulho entre nós. e nossa comunicação de a muito tempo se estabeleceu de novo. Ele sabia , e eu
também que eu só queria escutar aquele silêncio. Fiquei mudo, com o telefone no
rosto, sorrindo. Pensando nele. Como é que a gente consegue guardar pra sempre
esses pedaços de tempo ? Não sei, mas consegue. Os meus olhos sorriam, o meu
corpo todo sorria, porque silêncio era bom também. O que será que ele estava
fazendo, do outro lado da linha, junto comigo, no silêncio ? Era bom estar com
ele, junto com ele, mesmo que não fosse em um lugar físico, mas em um lugar
espiritual. Como é que apenas uma ligação do telefone pode guardar mais
transcendência do que as vozes de todos os santos e papas? Porque ali era só eu
e ele, mais ninguém. Nossos pensamentos, nossas palavras não ditas, uma ou
outra saudade. Muitas memórias. Já fazia mais de 2 anos que eu não falava com
ele assim, por tanto tempo. E fazia muito tempo que eu não o via. Faz ainda
muito tempo que eu não o vejo. Mas só de ver a foto, no celular, eu já
relembrei tudo que eu sabia. Até o sol,
veja bem, até o modo como o sol
bate na pele dele e brilha, eu gosto.
É pobre falar isso ? É óbvio falar isso ? É, eu sei, mas ele é pra mim o
homem mais lindo do mundo. Se eu soubesse falar de outro jeito, falava, mas
agora eu só quero ser sincero, antes que
passe. A voz dele muda sabe ? Muda, eu sei que muda, eu conheço bem ele. Quando
estamos falando de assuntos acadêmicos, coisas profissionais ele fala sério,
fala pensando, com ar de autoridade. Mas aí ele cansa, volta a falar
mansinho, com aquela voz que ele só me
dava quando a gente estava junto. Que bobo isso né? Todo mundo já pensou nisso,
todo mundo já falou isso e já leu em algum lugar também. Eu concordo, mas não
ligo. Amor é tão bom que a gente nunca cansa de falar dele. O que eu queria?
Ele pra mim. Pra mim não, mas você entendeu. Aquele silêncio bom de quando a
nossa conversa acabou ficou guardado aqui no meu ouvido. Eita gostosura de fim
de mundo. Eita hora boa pra morrer. Eu acabasse ali, ficava sendo feliz, fica
tudo bom e certo. Tudo ajustado. Sabe essa licença boa que se tem de morrer ?
Pois eu tinha, com ele. Pois eu tenho só de lembrar dele. Se sonho, até hoje ?
Sonho, e muito. Lembro por demais. As vezes sonho só com um abraço, e já é
muito de bom por demais. Fico querendo sempre. Se a gente volta ? Fala isso
não, que eu me perco nos eixos. Se existe milagre na Terra, a gente voltava. A
se voltava. O céu, seu moço, não existisse. Mas se existisse era assim, com ele
do meu lado, e mais nem ninguém não precisava. A gente, nós dois contra Deus e
o Demônio juntos. Porque ele estando comigo eu não tenho medo de nada. A gente,
sim, que proseia as nossas conversas, proseia os nossos silêncios também, esses
sim, bons por demais, porque tem muito mais do que qualquer conversa nossa.
Porque? Porque ele é mistério, eu não entendo nunca, porque ele não deixa. Se
amo? Digo que amo, O que a gente ama não põe a gente a chorar a toa ? E não
enche a gente de saudade? Pois então se amar é isso, eu amo. O beijo dele, seu
moço, o senhor não sabe, isso não é coisa de Deus não . Isso não é coisa da
Terra. Eu pra mim não me acontece que criação fez um beijo daquele, pra gente
gostar por demais. Dentro do beijo dele eu fico que nem poderoso, sem poder
nenhum. Fico calmo, de uma sereneza , de uma brandura, que nem passarinho no
ninho. Ali, o senhor pode que pode por
fogo no mundo, e pode contar pra nós todos que vamos todos desaparecer depois
da morte. Ali eu não tenho medo não senhor, ali dentro daquele beijo moreno
dele eu sou super homem. Se eu acho ? Acho sim, não sei, bom acho que a gente
abraça ainda, abraço bom, apertado, abraço choroso também. Porque eu amo, siô.
Porque foi bom, e eu quero que dure. Não precisa de razão não. Algumas coisas
não precisa de explicação não siô. E se tiver, eu não quero saber, eu só quero o
silêncio comigo. Eu me vou agora, vou dormir, sim, vou com ele. Com esse pedaço
grande de silêncio guardado no meu ouvido. Preciso de mais nada não, preciso de
mais nada.
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