terça-feira, 14 de abril de 2015

Prólogo

esse teu corpo é um fardo enorme,
carregando-te,
Eu te vejo escrito nas linhas do teu corpo morto,
do teu cadáver andante, dançante , demasiado.
Morto, muito mais morto do que calculas,
porque essa tua espera é uma espécie de morte.
Ter chegado é morrer.
Ser é ter acabado,
por isso não sejas,
aguarda sempre na espera,
como corujas noctívagas evitando o dia,
e espreitando as gaivotas a desfrutar das praias e das manhãs.
mas elas seguram a noite,
na noite elas aguardam,
e tu, preso na linguagem miúda das tuas palavras pequenas,
dos teus opostos, das ligeiras variações entre bem e mal,
entre claro e escuro,
das frágeis palavras com que desenha-me o mundo.
Mas só cabe o mundo no desenho frágil das tuas palavras ?
O que é o mundo, A vida, A realidade e As pessoas?
Que linguagem oculta é essa que falta para dizer do que nós
somos feitos ?
Que linguagem é essa que nada diz, mas apenas alude,
Porque são estas todas as tuas coisas,
alusões do que seria se entendesses,
se soubesses, se finalizasses qualquer coisa sobre o domínio da tua lógica.
Mas não terminas nada,
és vago,
deixa tudo em aberto como cirurgiões abandonando corpos abertos de homens.
Se a tua linguagem servisse de algo, ela não seria uma linguagem,
seria um decreto, uma solução. Chamar-se ia: A linguagem.
Não haveria outras. Sim haveriam, mas passariam a ser consideradas todas falsas, e só a tua é que seria o ideal com a qual falas da Verdade.
Mas isso calaria por demais os homens, seria uma matança, um genocídio.
Porque os homens não querem a verdade em si, pouco lhes importa que a verdade exista. Divagar, digredir, enveredar-se pelo seu caminho é o que faz dos homens , homens.
Suspeito talvez que eles de certa forma saibam que estão procurando algo que não possa ser achado.
E creio que é isso, a procura, e não o encontrar, que lhes baste.
Uma resposta final só estragaria o jogo disto que é chamado Ser.
E por isso que Deus se esconde tão bem, por que de certa feita tanto nos amou que quis de nós continuarmos por toda a eternidade, brincando, como crianças espirituais.

Talvez seja isso ou seja algo ainda mais simples, o fato de que Ele não exista, nunca existiu, e não existe, absolutamente nenhum, sentido oculto nisto a que chamamos Vida.

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