sábado, 15 de fevereiro de 2014

What does it takes to be a man ?

                            





                   Graeme Taylor,  um garoto de apenas 14 anos defendeu publicamente  seu professor por ter colocado para fora de sala um aluno que agiu com um comportamento homofóbico contra um colega. Apesar de o professor em um gesto humanista ter feito algo pelo aluno oprimido este mesmo professor foi expulso da escola. Graeme presenciou a cena, e  ele , que  se assume abertamente gay realizou um discurso em favor deste professor, do aluno humilhado, e de todas as pessoas que se descobrem homossexuais todos os anos e se sentem solitárias e com medo porque a sociedade as julga diferentes. O discurso está disponível na internet,  mas aqui eu cito uma passagem de extrema lucidez e que me fez revolver as minhas perguntas mais intimas em busca de respostas sobre o que é ser humano. Graeme diz " quando escutamos o discurso de Martin Luther King ele diz que seu desejo é de que um dia os seus filhos e netos não sejam julgados pela cor da sua pele mas sim pelo conteúdo do seu caráter. Eu da mesma forma espero que um dia nós  sejamos julgados pelo conteúdo do nosso caráter, e não por quem nós escolhemos amar. (...) Há um silencioso holocausto onde 6 milhões de homossexuais e transgêneros se suicidam todos os anos. É este realmente o ambiente que vocês querem para uma escola ? "
                   Deixo para que vocês procurem por si todo o discurso do garoto, que como eu já disse, é de uma lucidez extrema. Faz me repensar em todo o tempo que eu desperdicei na minha vida querendo dizer esse tipo de coisas, mas que eu ainda não tive a maturidade de dizer. Tive uma crise existencial muito grande em relação a religião. Uma desilusão na verdade. Depois de muito tempo e muita dor desisti de procurar Deus. Hoje em dia eu costumo dizer que a minha religião são as pessoas. Onde houver alguém oprimido, segregado, abandonado e que precise de ajuda , se eu puder fazer alguma coisa por esta pessoa, então a minha vida tem um sentido. A minha última tentativa de inclusão social foi adentrar em um grupo de jovens cristãos aqui da Universidade. Por estar em um país diferente julguei que esta seria uma boa forma de me integrar e fazer amigos. Mas decidi que não posso voltar lá antes que eu consiga perdoá-los pelo que eles pensam de mim. Não só de mim mas de todos os homossexuais em geral. Resumindo a história a Biblia diz que o homossexualismo é pecado. Sendo pecado não deve ser praticado. Não sendo praticado se você nasceu homossexual você está condenado a passar uma vida inteira sozinho só porque a pessoa que você escolheu amar não é o tipo de pessoa que a Biblia diz que você pode amar. É ao mesmo tempo triste e assustador que pessoas que pregam o amor prefiram acreditar num livro que foi escrito a mais de 2.000 anos  do que observar a sociedade, olhar nos olhos das pessoas, sentir quais são as suas necessidades, respeitar a sua liberdade de expressão, sua vontade de ser feliz. Só porque os ditos cristãos se enquadram na norma não pensam na situação de quem não se enquadra. Acho isso absurdo e de um egoísmo extremo, na verdade não saberia dizer se é egoísmo ou ignorância, só sei que  não é nem um pouco cristão. Se Jesus existiu e foi realmente a pessoa que foi eu duvido que ele julgaria uma pessoa pela cor da pele ou por sua orientação sexual ou por qualquer outro destes pormenores que não fazem a menor diferença e que não mudam nada. Tenho tido discussões com um amigo meu, católico, sobre isso, mas essas discussões caem sempre no mesmo lugar comum, onde eles comparam homossexuais com ladrões e prostitutas como se todos estivessem em mesmo pé de igualdade porque todos praticam o pecado. Na minha opinião, pecado é o que eles fazem, excluindo, segregando, condenando pessoas a se reprimirem e ficarem sozinhas para sempre só porque o Deus que eles inventaram supostamente escreveu que homossexualismo é pecado. É muito triste saber que ainda há pessoas que pensam assim, que não conseguem se colocar no lugar dos outros e pensar como seria se eles mesmos tivessem nascido naquela situação. E eu fico triste porque eu discorro sobre esses assuntos pelo fato de que eu sou, eu mesmo, homossexual, e  sinto na pele como é ruim ser julgado pela sua orientação  e não por quem você é. Nunca tive uma conversa aberta com meu pai sobre isso. Nunca pude conversar sobre meus relacionamentos com ele, e sinto que isso realmente faz falta pra mim. Mas a dor desta solidão expande a minha visão humanista, e eu abraço não só a minha causa, mas a de todas as pessoas que são discriminadas porque não se encaixam no padrão da sociedade. Negros, índios, deficientes físicos e mentais, ateus, todos aqueles cuja toda atribuição e rótulo é dado, menos o de ser humano. É por isso que eu eu não acredito em religiões, apesar de respeitá-las. Não respeitar a crença de uma pessoa, apesar de discordar totalmente com ela é pagar na mesma moeda, é devolver o mal com o mal , e isso não leva o mundo a lugar nenhum. Eu tento perdoá-los, por mais que seja difícil. Em geral isso dá um novo sentido pra minha vida. Eu cansei de ficar acreditando em fantasmas, seres de outro mundo, supostos amores incondicionais e coisas que eu não vejo. Sou sim aberto a novas possibilidades. Algumas ideias espiritualistas são bastante razoáveis e fazem bastante sentido, embora eu não possa provar que estão certas. Atualmente confio nos meus sentidos. E no fato de que eu estou usando a minha vida para transformar vidas, tanto a curto quanto a longo prazo. Aprendendo pela minha própria experiência, e não por um medo infundado de um inferno que nem mesmo existe. Religião é uma coisa que não se discute,  é um ponto que dá sentido a vida das pessoas, e por isso para elas é motivo de briga. Só sinto pena da humanidade que ainda não evoluiu o suficiente para tratar as pessoas de uma forma igualitária, de proporcionar os mesmos direitos a todos . Mas apesar de tudo, a existência de pessoas, no caso apenas um garoto, de 14 anos, como Graeme Taylor me faz acreditar que nós estamos caminhando para um dia em que as pessoas não serão julgadas por quem elas escolheram amar e pelo dia em o que está escrito num livro obsoleto não seja mais importante do que a vida e a felicidade de um ser humano.



Yuri Volpato Santos, Canadá,  15 de Fevereiro de 2014

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